Confiram texto das alunas
selecionadas na semifinal das Olimpíadas de Língua Portuguesa
Amanda Ferreira de Aquino - 8ºB (semifinalista)
Gênero: Crônica
Mundo frio
Ao meu redor, milhões de lugares, milhares de pessoas,
porém são faces e lugares pouco conhecidos. Eu ando sem pensar em
nada, observo o céu cinza e
lembro-me do Zeca Baleiro: cinza como o céu
de estanho. Céu tão nublado que chega a ser
triste. Estou molhado, chove, mas não sinto frio algum.
Paro e observo algo que me chama a atenção: uma
pequena garota chora em silêncio, seu cabelo é longo e de colorido
moderno – incomum; sua pele de tão branca chega ao pálido e, sua
face... lembrou-me algo parecido a um anjo... sem expressão...
somente lágrimas que se confundiam com as gotas de chuva,
movimentavam-se em sua alva pele.
Comovo-me com tal cena. Trovões começam a assustar os
outros que por ali passavam absortos, mergulhados em seus problemas.
Só eu ouço o pranto desesperado vindo da minha esquerda. Paro.
Estou diante de um dos viadutos capital, o Airton Senna e penso no
paradoxo de ter alguém tão triste num lugar tão bonito. Isso me
comove mais.
O tempo passa e ficamos só eu e a garota triste. Não
há mais transeuntes. Abaixo da onde nos encontramos, carros passam
velozes sem se preocuparem com o perigo do asfalto molhado.
Passageiros e motoristas não sabem a dor que o viaduto abriga.
Penso em ajudar a jovem. Será que ela precisa de ajuda?
Tristeza tornou-se algo comum para todos. De longe observo. Ela sobe
em algo. Vence o primeiro empecilho. Seu vestido branco meio
manchado, nem mesmo se move, está grudado em seu corpo molhado.
Vira-se, ameaçando cair. Seu corpo imóvel já não treme e ela
parece determinada a fazer algo...
E, quando percebo que a garota melancólica quer acabar
com sua tristeza ela me vê e sorri. Ainda me olhando, balança. Sem
hesitar, corro em sua direção, estendendo meu braço para
alcançá-la. Foi tarde. Seu sorriso foi se desmanchando, tornando-se
um suspiro.
Fecho meus olhos para não acreditar em tal desgraça.
Em vão: não me esquecerei de seu sorriso calmo apagado pela vida.
Choro e penso neste mundo em que um sorriso final é levado pela
morte é certamente um mundo muito frio.
Millena Castro Ribeiro - 7ªE
Gênero: Memória
Meu Lugar
Foi uma longa vida. Ninguém sabe ao certo como cheguei
aqui, mas o que se sabe é que esse é o lugar onde passei a vida e
encontrei o conforto e a paz de que precisava. Estou falando de
Brasília, que perto das demais capitais é uma cidade nova, com 52
anos. É cheia de brilho, de monumentos, de muito verde, de muitos
ipês que colorem o concreto cinza.
Fiquei por aqui pelas pessoas interessantes, pela
diversidade de culturas feita com gente do Brasil e de todo o mundo.
Mas, apesar de nova, essa nova capital é carregada de muitas
histórias e sonhos que se concretizaram em histórias espalhadas por
suas áreas descampadas e hoje cobertas de verde. O imponente lago
Paranoá, azul e pronto, para umedecer mais o nosso ar. É uma dessas
lembranças que vou contar a vocês. A minha história.
Vim de Minas Gerais e a vida me trouxe para uma Asa
Norte ainda em construção. Naquela época era tudo tão simples se
comparada com os dias de hoje era uma vidinha monótona. Lembro-me
das crianças brincando de bete e de queimada nas ruas tranquilas,
corriam sem medo para brincar de pique-esconde ou pique-pega. A pipa
ainda impera até hoje, mas os carrinhos de rolimãs já não se veem
pelas quadras.
Era a cidade dos meus sonhos. Aqui eu pensei em criar
meus filhos. As pessoas agiam com muita simplicidade e todos se
tratavam com respeito. Dos carnavais salvaram-se os blocos que
cantavam as marchinhas antigas e as novas, sempre com severas
criticas ao governo e à corrupção. Sem contar que aos domingos,
íamos ao Eixão para caminhar, andar de bicicleta e tomar uma água
de coco naquele calor escaldante. Hoje em dia esse programa dominical
ainda é muito concorrido. Isso ficou de bom daqueles tempos.
Um dos ícones da cultura brasiliense eram as bandas de
garagem – isso acabou, mas o sucesso dos hoje, velhos poetas,
continua pelo mundo e ainda move multidões com suas músicas. Salve
Legião Urbana, e Paralamas do Sucesso! Infelizmente os
jovens de hoje não vivenciarão o brilho daquela época.
É claro que como toda cidade, Brasília também criou
seus defeitos, mas nenhum deles encobre o que há de maravilha, de
futurista, de encantadora.
Não posso me esquecer de que todos os problemas
tornam-se pequenos perto do que vivi e construí. Apesar das
dificuldades, Brasília resiste a tudo, é uma cidade ampla e possui
um incrível céu de brigadeiro, que nos encanta a todos até hoje.
Esse é o lugar onde vivo – lugar que me fez esquecer de onde vim;
onde construí inúmeros momentos inesquecíveis. É o meu lugar.
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